Por Luis Miguel Modino
A assembleia do Sínodo para a Amazônia começou, neste domingo, 6 de outubro, na Basílica de São Pedro, com uma celebração presidida pelo Papa Francisco, onde mais uma vez, em uma homilia cheia de firmeza e sentido, incentivou os participantes da assembleia sinodal e deixou claro para aqueles que reivindicam prudência, que isso não pode ser confundido com uma atitude defensiva, muito menos ofensiva, como alguns assumiram como prática habitual.
Vivemos em uma sociedade e uma Igreja marcada pelo “sempre se fez assim”, o que faz com que, segundo Francisco, ” o dom desaparece, sufocado pelas cinzas dos medos e pela preocupação de defender o status quo “. Como também recolhe o Instrumentum Laboris, o Papa alertou sobre o perigo de uma pastoral de “manutenção”, chamando ao “ardor missionário” como um “sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial”.
No texto paulino deste XXVII domingo do tempo comum, o bispo de Roma lembrou que “em oposição à timidez, Paulo coloca a prudência”, o que reforça o catecismo com timidez ou medo, insistindo que “a prudência não é indecisão, não é um comportamento defensivo. É a virtude do Pastor que, para servir com sabedoria, sabe discernir, sensível à novidade do Espírito”.
Em um Sínodo que deseja abrir novos caminhos, o Papa deixou claro que “reacender o dom no fogo do Espírito é o oposto de deixar as coisas correr sem se fazer nada”, denunciando os momentos em que “houve colonização em vez de evangelização!”, e pedindo firmemente que “Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos” e aqueles que querem “fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos”. Francisco insistiu que “o anúncio do Evangelho é o critério primeiro para a vida da Igreja “.
Numa realidade em que “muitos irmãos e irmãs na Amazónia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja”, o Sínodo se apresenta como uma oportunidade histórica para a Igreja responder a uma das grandes ordens do processo de escuta sinodal, que “caminhemos juntos”. Somente assim a Igreja pode se tornar uma referência para as pessoas, para a sociedade e para a grande maioria dos católicos, que sentem isso como um tempo de graça.
Nada melhor do que colocar nossos esforços e esperanças nas mãos de Deus, um Deus Criador que continua presente em nosso meio. Uma atitude de súplica presente na Basílica de São Pedro, como também na Igreja Transpontina, que ficou pequena na noite do sábado, com muita gente sentada no chão, orando e pedindo a força do Espírito pelo Sínodo, no evento organizado pela Amazônia Casa Comum. Mulheres e homens que sentiram a força trazida pelos povos originários da Amazônia, que carregam em seus corações a vida de uma grande multidão de povos, de uma floresta ameaçada, mas que descobriram na Igreja a força de uma profecia que nasce de Deus.
Este é um Sínodo que revela que a esperança dos pobres está viva, como afirmou Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho e presidente do Conselho Indígena Missionário Brasileiro. Isso se percebe nas vozes do território, presentes nesses dias em Roma, vozes da Amazônia, vindas da periferia, que ressoam no centro tradicional do cristianismo, nos portões da tumba de Pedro, no ouvido de seu sucessor, em que os povos amazônicos sentem a presença de um dos seus grandes defensores.
É Francisco, o apóstolo da ecologia integral, que nos chama para cuidar da casa comum, ameaçada por madeireiros, garimpeiros, por grandes empreendimentos que cercam os povos originários, como denunciou a irmã Laura Vicuña Pereira Manso, que acompanha o povo karipuna de Rondônia, catequista franciscano que está neste serviço de presença entre os povos indígenas há vinte anos. Uma luta que nunca foi fácil, mas que foi complicada por um governo que vê como um ataque à soberania nacional o fato de defender a terra, a água e a floresta, que não quer entender que só temos esta casa para viver.
Muitos morreram e continuam a morrer para defender a Amazônia, como Dorothy Stang, Chico Mendes, Ezequiel Ramin, exemplos concretos de tantas mulheres e homens que lutaram para tornar a ecologia integral uma realidade palpável, exemplos de uma Igreja profética na Amazônia, com seus desafios e esperanças, com um clamor que, como aconteceu com o povo de Israel, como narra o livro de Êxodo, chegou a Javé, que viu a opressão que eles sofrem.
Ele é um Deus trinitário, uma família que esteve presente nesta importante vigília, assim definida pelo cardeal Pedro Barreto, um dos três presidentes deste Sínodo para a Amazônia, que ele vê como uma terra boa, como água da Vida que vai dar frutos. Um Deus que sofre com o sofrimento do seu povo, que caminha na Amazônia, um Deus que inspirou Francisco de Assis, alguém que tinha um futuro de sucesso pela frente, herdeiro de um pai com muito dinheiro, mas que sentiu um chamado ao coração de um Cristo que ficou pobre enquanto era rico. Um Francisco de Assis, que muitos descobrem hoje presente em um novo Francisco, este de Roma.
É um tempo de graça, cada vez mais evidente, cada vez mais presente no coração da Igreja, de tantos homens e mulheres que convergiram em um sentimento comum, é hora de realizar a vontade de Deus, que deseja novos caminhos, confiada àqueles que, a través de um discernimento saudável, juntos, em atitude sinodal, os procurarão durante as próximas três semanas.